"Um queijo e uma rapadura"

A linguagem verbal autêntica, ricamente diversificada por geografias, costumes e o correr do tempo, abrange sutilezas que uma observação superficial não costuma captar. Por esta razão, a imitação grosseira de um linguajar resulta estranha e desagradável.

A título de exemplo: em Minas – não de maneira universal nem uniforme – pode-se comer queijo com rapadura ou rapadura com queijo; tanto faz. Entretanto, uma expressão popular, que tem sentido de distância ou, quem sabe, de duração de tempo em relação a distância que se percorre, diz “um queijo e uma rapadura”. “Daqui até lá, tem um queijo e uma rapadura”; ou, “pra chegar, falta um queijo e uma rapadura”. (A expressão é popular, portanto, não nos cabe corrigir a concordância.)

Não se diz, invertendo a ordem, “Daqui até lá tem uma rapadura e um queijo”; nem pode ser meio queijo e meia rapadura... nem dois queijos e duas rapaduras... Pior ainda seria alterar essa proporção de uma rapadura para cada queijo.

Ainda que o queijo e a rapadura possam ter, na realidade, dimensões variadas, não importa: é “um queijo e uma rapadura”; nada mais, nada menos.

(Florisa Brito)