Música "Modernidade" [comentário]
“Quando fui e quando éramos / Intactos projetos imaturos / Fomos modernos...”
(Música “Modernidade”, interpretada por Lulo Scroback. Tentei localizar informação segura sobre autoria, especialmente da letra - objeto deste comentário, mas não tive sucesso.)
Gosto dessa música e, durante anos, entendia esse “quando fui e quando éramos” como uma espécie de redundância (bonito, perfeito, mas redundante), pois a primeira pessoa do plural engloba a primeira do singular. Ou seja, eu entendia que era simplesmente “Quando... éramos intactos projetos imaturos...”; o “fui” nada acrescentava de conteúdo, segundo aquela minha interpretação desatenta.
Um dia, ouvindo menos distraída, percebi que são dois tempos verbais diferentes (pretérito perfeito e pretérito imperfeito); depois me lembrei que poderia nem ser o mesmo verbo em “fui” e “éramos”.
Foi assim que, para mim, desapareceu a redundância, deixando em seu lugar incertezas. A primeira delas: a qual dos verbos pertence o “fui”? Se ao verbo “ser”, tal como “éramos”, ainda assim, a situação singular não coincide com a situação plural, pois os tempos verbais provocam efeitos distintos.
Mas, se “fui” pertence ao verbo “ir”, poderia estar no sentido de “ir embora”, por exemplo.
Para mim, que nunca achei graça nem vi seriedade em explicar “o que o autor quis dizer”, o que passou a fazer mais sentido, isto é, a suposição que passou a combinar mais com a minha percepção de mundo, assim se resume:
- “Quando fui” não tem conexão com os “intactos projetos imaturos”; apenas com “fomos modernos”; "fui" pertence ao verbo “ser”, relacionado a existência; como denotando uma existência mais significativa.
- “Quando éramos intactos projetos imaturos...” vem acrescentar-se ao “quando fui”, e ambas as expressões conectam-se com “fomos modernos”.
- Ou seja, quando existi de maneira mais significativa, e quando éramos, todos, nesse tempo, “intactos projetos imaturos”, “fomos modernos”.
Vejo outros mistérios mais na letra dessa música; mas já foram muitas suposições, por ora; paro por aqui.
(Florisa Brito)
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