Preguiça mineira de falar
PREGUIÇA MINEIRA DE FALAR
Costuma-se criticar o hábito linguístico, tipicamente mineiro, de pronunciar as palavras de forma incompleta, por “preguiça de falar”.
No que diz respeito a reduções ou omissões na linguagem, o que se interpreta, às vezes, como preguiça, alguns estudiosos consideram como economia de esforço. Todavia, se fosse questão de economizar, como se explica que o mesmo falante “econômico” comporte-se também como “esbanjador”, ao usar repetições e redundâncias? Além disso, as pronúncias reduzidas não são generalizadas nem aleatórias, ou seja, não se reduz qualquer palavra em qualquer circunstância.
Quanto a considerar como preguiça, teríamos que pensar, por exemplo, que os franceses também são extremamente preguiçosos ao falar sua língua, pois existem palavras em que várias letras que se escrevem não são pronunciadas. No entanto, essa pronúncia francesa é considerada rigorosamente correta. Em se tratando de linguagem, as avaliações a respeito de certo e errado, de saber e não saber, envolvem juízos de valor que denotam preconceito, forjando hierarquias que pouco ou nada tem a ver com a linguagem propriamente dita. O preconceito linguístico é um dos mais arraigados e menos reconhecidos na sociedade.
A propósito das reduções, tão frequentes no falar mineiro, considero mais plausível que ocorram devido à previsão intuitiva de que aquilo, isto é, o que está sendo eliminado, ou que se omite, é desnecessário para o resultado pretendido. Já uma redundância, pode ter um papel importante na comunicação, sob uma perspectiva de ênfase, por exemplo. Todos os falares desenvolvem suas próprias nuances, que se assemelham às características da complexidade humana envolvida. Analisar isoladamente certas ocorrências da linguagem, mediante exaustivos recortes, tende a embasar afirmações que não se sustentam, quando confrontadas com outros ângulos de observação.
Se acho (apenas acho), que certos hábitos reducionistas de pronúncia podem não decorrer da mera intenção de economizar, como postulam alguns, porque considero que o falante que reduz é o mesmo que multiplica as formas de dizer, será, então, que pretendo substituir essa afirmação por outra? A verdade é que esse tipo de explicação não me atrai; porque, em geral, não se sustenta. Quem quiser que recorte, desmonte, depure, contabilize; prefiro apreciar. Mineiramente, saio à francesa, com as palavras do personagem paraibano Chicó: “num sei, só sei que foi assim”.
(Florisa Brito)
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