Bêra d'água

Bêra d’água

- Florisa Brito -

Atualizado em 28/03/2021.

 

Eu quiria tá pescano:

Sem tarrafa, sem canoa,

Sem linha me imbaraçano,

Sem pricisá isca boa.

 

Bão mesmo é ficá oiano

Água que corre sem fim...

Sem cumprumisso, iscutano

Corredera e os passarim...

 

Acomodá num barranco,

Pelo sol’ sabeno as hora...

Sujá desse barro branco,

Sem tê pressa de í imbora.

 

Deitá nas foia do chão,

Oiá pro céu entre os gai,

Veno os rasto de avião

Que dexa os risco e la-i-vai.

 

Assisti nuve passano,

Cons desenho que farseia;

Inquanto longe, vuano,

Os urubu devorteia.

 

Bem no arcance dum braço,

O corgo segue cantano...

Asveiz um ventim, iscasso...

E os pexe, manso, nadano...

 

Se dé sêde é munto face:

Ranja uma foia dobrada...

E se essa foia fartasse,

Faiz cuia c’a mão fechada.

 

Curti priguiça na bêra

Dum sussegado corguim,

Favuricia a cansera

Que vai juntano, sem fim...

 

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