Ranchim de roça
RANCHIM DE ROÇA
- Florisa Brito -
Bast’ uns gái de angiquero,
Duas furquia fincada,
As foia d’argum coquero,
Cum cipó bem amarrada.
Um girauzim quais no chão,
Só pra livrá da inxorrada,
Pra largá trem dos pião,
Adubo, cutelo, inxada...
Bão fazê no mei da roça,
E não n’arguma berada,
Pra corrê da chuva grossa
Sem lonjura ixagerada.
Coisa bunita de vê
De dento desses ranchim,
É quando pega a chuvê
No verdume do arroizim.
E se, de lá do corguim,
Um arco-íris disponta,
Tudo imenda num sem fim.
Bunito dimais da conta!
Se um braço daqueles dia
Arcançasse até aqui,
Igual o uruvai caía
Nos ramo perto dos tríi,
Ia sê como um discanso
Em sombra bêra d’istrada,
Ô bêra dum corgo manso,
Angá dos bão, passarada...
Mais, se viesse esse braço,
Num tinha lugá sobrano...
O mundo tá sem ispaço,
Tá tudo chei, derramano.
Arco-íris, quando vem,
Chega assim pelas metade,
Imbaraiado nos trem
Que já intope a cidade.
A sorte é que uns passarim,
Inda vem, de ofiricido,
Cantano pelos cantim;
Quais ninguém bota sintido.
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