A JOGINA DOIDA [gente]

Diz-que a Jogina era doida de tudo mesm’; num era dessas pessoa só ispilutiada não.

Ela morava sozinha, acho que era numa casa dessas que as parede é de pau ruliço, igual pimentera... ô pode sê que fosse de pau-a-pique... cuberta cum foia de bacuri ô foia d’ôta coisa... Era lá onde tinha um pé de angá, que era grande dimais da conta; desse pé de angá eu lembro, de munto tempo dipois, porque ficava na bera do camim da iscola... Era o único pé de angá qu'ixistia, e os angá pudricia quais tudo... mais quando prestava, um ô ôto, era docim té falá chega.

Nesse tempo num ixistia a casa mais não... Todo mundo sabia que ali era a tapera da Jogina, mais num tinha nem sinal’ de casa. Tamém, essas casinha mais pruvisória, quando dismancha, num instantim disaparece tudo, num dá nem pa vê que morô gente ali, a num sê pelas pranta, quando tivé prantado trem que dura mais... se num fô só uma horta, umas mandioca, umas flor... Eu penso que o pé de angá num tinha sido prantado não... nasceu ali por si.

Diz que a Jogina era de veneta, de modo que pa í na casa dela tinha que sê assim: a hora que chegava, tinha que perguntá, mei de longe:

- Cumé que vai, Jogina?

Conforme o qu’ela respondesse, pudia cabá de chegá; conforme fosse, pudia virá nos casco e í imbora. Tinha um jeito de respondê que era assim: “Tô tintiano!”. Pelo qu’eu lembro de vê contá, esse era o jeito bão dela respondê. A resposta braba, si num m’ingano, era “Quá!”.

Diz-que uma veiz, a Jogina... era numa festa dessas que juntava um povão,  vinha gente de toda banda: das redondeza e tamém da Pirajuba, do Frutal’, da Areia... Aí, um home desses que gostava de sê arrojante (o home era munto cunhicido, eu é que num lembro os caus direito, pur isso num sei o nome dele)... esse home, pa bancá o ingraçado, foi caçuá dela na frente duns ôtos “home de responsabilidade”(meu pai que ixpricava assim, pa intendê que num era quarqué um sem importança) falô pa Jogina: “Jogina, tá veno esse aqui? Ele é delegado!” Intão diz-qu’ela virô po arrojante, na frente de todo mundo, do delegado de mintira tamém... e falô rasgado: “Ó! Sabe aquela vaca c’ocê robô do Bastião Rudrigue e cumeu? Aquilo tá in segredo, hein?!”

Diz-que o home num sabia onde punha a cara... purque nem todo mundo ali cunhicia ele direito, intão argun pudia botá farinha na cunversa da Jogina, acriditá naquil’ qu’ela tinha cabado de inventá... Da onde ela tirô aquilo? Ninguém num tinha robado vaca ninhuma nada não...

Tinha munta história da Jogina... Pena qu’eu num lembro. E doida ela divia de sê, mais era sabida... e num cumia nada manhicido. Quem punha a cara c’uela, ripindia... passava da banda errada...

(Florisa Brito)

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