Arvona [era assim]

ARVONA

 

Se eu subesse desenhá, desenhava os lugá e as coisa que fica ino e vino na minha lembrança... que já num ixiste mais, intão num tem jeito nem de vê traveiz, quanto mais de tirá um retrato, ô mesmo, sen’um que sabe, fazê uma pintura... Eu tenho cá cumigo que nem num pricisava de tinta, porque o mió, dessas coisa qu’eu tô falano, caba nem num seno as cor...

                Uma dessas coisa é aquela arvona que tinha lá... Eu penso que ninguém num prantô, deve tê nascido pursi; ninguém rancô, foi cresceno até virá um mundo véi de grande! Raíiz era mato! Umas cresceu tanto por cima do chão que sirvia pa sentá; ôtas, aparicia mais ô aparicia menos, conforme a chuva lavava a terra ô trazia mais terra, discubrino e tornano a incubri. Invorta tinha grama; dibaxo da arve mesmo a grama num vingava não... eu sempre achei que fazia dó num podê sentá na grama dibaxo da arve.

                Dos gái mais dibaxo, uns quais incostava no chão... uns era bão de balançá... Tinha umas fruta ingraçada que dava, num era de cumê não, que paricia binga... vi falá que pudia sirvi pa fazê binga, de cendê mesmo, nunca vi ninguém pruveitá pa fazê não. Lá, nas minhas conta, sirvia era só pa brincá... quem tinha custume de brincá...

                Eu falano assim, dá só pa fazê uma ideia... s’eu subesse desenhá... se eu pudese mostrá cumo era, c’as cor isprivitadinha... até os chero, até os canto dos passarim... os berro das vaca e dos bizerro lá mais ritirado... um cavalo pastano ali perto... uma galinha ciscano cons pintin... um ventim balançano as foia... mesm’assim, inda ficava fartano arguma coisa que eu nem nun sei o que que é... uma coisa que num apaga da lembrança e, sem tê jeito de mostrá, rispinga aqui-aculá, no meu jeito de sê e de num sê... temperano e distemperano... dia por dia...

(Florisa Brito)

 

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