ISCOLA - as merenda [era assim]
ISCOLA - as merenda
Na iscola mesmo, num dava nada de cumê não. Quem pudesse e quisesse, levava merenda. Intão tinha uns minino, pelo qu’eu lembro, que num ia sem merenda não. Dicerto a mãe, purexemplo, arrumava ô mandava êl’z arrumá e levá; e quer-dizê, tamém, que tinha o que arrumá. Tinha ôtos que, se levasse, uma veiz na vida, era arguma coisa que achava no camim... só se fosse... porque incasa os trem de cumê era regrado, passava farta...
Laincasa, tê até que tinha... quer dizê, assim, os mantimento num fartava, tinha o leite... uma ô ôta fruta conforme fosse tempo... Mais nóis quais num levava nada não: disanimava... de carregá, longe dimais da conta, além de tê que carregá os objeto (nóis falava os objeto, uns falava os trem de iscola)... e disanimava de arrumá tamém. O Bejim asveiz animava fazê limonada pa levá... tinha limão china... – a garrafa de vidro era um peso danado...– e punha dento do corgo (bem pertim da iscola mesmo tinha um corgo), ingastaiava narguma raiz, nargum gai, pa num rodá... e ficá fresquinha. Até hoje me dá priguiça de lembrá. Tinha veiz que nóis levava mixida, que era ovo frito cum farinha e açuca, no copo de massa de tumate... o runh era que inferrujava dimais... mesm’ assim era bão... e ficava manero pa carregá no imbornal’. No copo de massa de tumate dava pa levá arroiz tamém... custumava sê só arroiz mesmo, sem fejão, sem mistura, mais era bão porque sustentava... asveiz nóis dexava pa cumê a hora que tava vortano... Tamém era munto isquizito uns merendá e ôtos não... isso tamém me disanimava.
Uma veiz mandaro uns trem de fazê merenda pa iscola... quer dizê, num guardô na iscola purque num tinha lugá... nem porta pa fechá num tinha... de veiz inquando até vaca entrava... ficô na casa da professora. Era leite impó, aveia, parece que tinha trigo, num sei que mais... Aí, pa incurtá a cunversa, perdeu; porque num tinha quem fizesse e levasse. Acho que um poco era farta de ixpidiente... num é pussive que ninguém num pudia dá jeito... intão divia reparti nas casa de quem pricisava mais (laincasa nem num pricisava, os trem de fazê tinha lá)... Virô um jogo de impurra, e inquanto os trem pudricia, os minino continuava ca barriga roncano, cumo já tava acustumado.
Tinha uns trem bão dimais de achá no camim da iscola. Eu gostava dimais de guapeva, de murici (tempo de murici / cada um pra si), gabiroba (meu pai mandava tomá cuidado, botá sintido, porque cobra gostava de ficá dibaxo de pé de gabiroba, era um pirigo!)... bacupari, coquim de castanha, coquim de aguinha, coquim de jiribá... maminha-cadela era injuativo... tinha umas frutinha miudinha que nóis chamava de bostinha-de-rulinha, que sirvia na hora da fome, era mei sem graça... Tamém, quando iscuía o camim da tapera da Jogina, pudia tê manga, conforme fosse tempo, ô laranja... Tinha uns tempo que nóis achava minduím onde tinha sido prantado antes e aí nascia uns pezim... minduím verde é gostoso dimais da conta... quando rancava e num tinha nada, dava dó, porque capaiz qu’inda ia dá, rancô antes da hora...
O mais certo é que nóis chegava da iscola pricisano cumê arguma coisa, dipois de andá daquel’ tanto... Aí ficava uma panela de arroiz lá incima do fugão... o fogo apagado, nóis que num ia mexê cum cendê, já tava passano da hora de cumê... o arroiz ficava mei seco, imendado... tinha veiz que até tinha um restim de fejão mei seco tamém... quando tava teno coisa na horta, nóis pegava uma foia pa cumê com arroiz... eu prifiria mustarda, se tivesse... Pelo qu’eu sei, numas casa arrumava a cumida quando os minino chegava da iscola... fritava argum ovo, isquentava arroiz, fejão e arguma mistura que já tava pronta... Já nôtas casa num tinha nem o que arrumá, quais sempre... Laincasa tinha. Nesse tempo, paricia que as pessoa num pricisava de munta coisa nada não; cum poco, passava. Dipois é que foi omentano dimais as pricisão...
(Florisa Brito)
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