Mil' e novicentos e trinta e oito
Em Mil’ e Novicentos e Trinta e Oito...
(Ah! Se eu subesse contá...)
Tinha munto caus que cumeçava assim: “Em mil’ e novicentos e trinta e oito, por ocasião do casamento do Bebé...” Isso foi quando o Tibebé casô c’a Tigasparina... porque dipois qu’ele ficô viúvo, que já tinha nascido a Vanda mais a Rita, o Joãozim, o Pedrito, o Nilo, o Benjamim Donizete e o Paulo Sérgio... aí ele casô de novo...
Vortano a cunversa, a ocasião que rendeu munto caus foi aquela do primero casamento do Tibebé... Do ôto, eu num dô nutícia, quer-dizê, da ocasião do casamento... Aquele primero foi em 1938, lá no Mato Grosso... só-que-tem-que era aquele Mato Grosso que dipois ficô seno Mato Grosso do Sul’. Por mal’ dos pecado, eu num lembro se o casamento foi em Treis Lagoa, ô na Paricida do Tabuado... foi por ali, praquelas redondeza... se foi nôto lugá, tamém, tanto-faiz cumo tanto-feiz... seja onde fô, garanto que hoje deve tá munto mudado... os lugá tudo vai mudano dimais da conta... uns muda até de nome...
Bem que eu quiria sabê contá munta coisa dessa causaiada que tinha cunticido em 1938, por ocasião do casamento do Tibebé... tinha munto insinamento, e esses eu garanto que ficô bem gravado, num apaga... tinha umas passage que era caus de ri, tamém... Asveiz fico até lembrano duns lugá onde nunca puis os pé...
O que eu lembro... é que ele foi de-a-cavalo, com o Doca, mascatiano torim... de certo tinha mais gente ajudano... Pelo que eu intindi, o Doca tinha custume de mascatiá torim; e ele foi junto, daquela veiz, pra assisti o casamento do Tibebé. Só-que-tem-que os ôto tinha ajustado um ônibo pra í (parece que travessava o ríi era numa bal’sa); intão, num sei se num tava teno lugá no ônibo... se ele pode tê ficado mal’sirvido cum arguma cunversa e largô-de-mão de í cons ôto... (Issso eu falo, porque ele era sem séca de tudo c’as coisa, num era dessses que quiria tudo do-bão-e-do-mió, mais, conforme fosse, se agravasse ele, ih!... dipois d’ele tomá pião na unha, num tinha cunserto.) ... Quem sabe se ele quiria í de-a-cavalo mesmo... Eu, se fosse ele, ia querê ... e seno que o Doca já laía, tava face.
Agora, as cidade tudo onde foi passano... cavalo que afroxô e teve que berganhá... quê que foi aconteceno no camim... os pôso... caus que ôtos contô in roda da lamparina nesses pôso... cada lição apruveitada, conforme cada caus... quer-dizê, sobre o que convém fazê e o que convém ivitá... o tanto que “tem gente boa nesse mundo”... e o tanto tamém que “tem gente runh’ nesse mundo”... as veiacada... as al’ma boa... Isso tudo ficô samiado pra-qui-pra-li no mei das minha lembrança, custozo de incarriá pra contá...
Num resta duda que o Tibebé casô ca Tigasparina, en 1938, lá no Mato Grosso (que dipois virô Mato Gosso do Sul’)... E o meu pai foi de-a-cavalo, e passô munta piripeça, e cunheceu munto lugá, e incontrô munta gente no camim... e pruziô dimais da conta, e dipois contô munto caus... Isso é fato! Agora, eu sabê contá, incarriá tudo, já é ôtos quinhentos.
Eu havera tê ranjado um caderno véi e um tôco de lape, igual’ ele quando tinha umas conta compricada pra fazê... eu havera tê ido tomano nota... mais sempre ele contava traveiz... eu tornava isquecê... ele tornava contá...
Toda veiz eu ficava apriciano os caus, e num atinava que ia chegá uma hora que ele num ia podê contá mais... Durmi de butina.
(Florisa Brito)