Sementinha de goiaba [foi assim]

Sementinha de goiaba [foi assim]

 

Uma veiz, quando eu inda nem num ía  na iscola, seno qu’eu cumecei a í cum seis ano... me levaro lá no Ritiro do Dotor Fausto, por causa dumas cocera que dava nimim, principalmente nos braço, nas perna e no pescoço, até  quando num era tempo de manga e eu num tinha cumido nada remoso, igual côco de macaúba, purexemplo, pa tê discurpa...

Só a fazenda do Dotor Fausto que era grande, nas redondeza... quer dizê, mais pra baxo um poco, tinha a do João Celero, grande tamém. Nessa do Dotor Fausto, os pasto era chei de boi nelor, desses que, ô é branco ô é incardido, e é tudo munto arisco. De veiz inquando nóis ficava (do lado de cá da divisa, bem intindido), assistino os caminhão de boi incravá na subida do tope... tinha veiz que num saía inquanto num aparicia arguém cons boi cangado, pa rastá o caminhão cum boi e tudo; boi manso rastano boi brabo.

Intão, num dia que o Dotor Fausto tava lá, porque êl só ia bem-dizê a passei... me  levaro pra fazê uma cunsurta. Aí êl’ receitô uns cumprimidim, piquenim mêsm’(inda partia no mei, num sei se era pa demorá mais cabá); e uma pumada. Num sei se ele perdeu tempo de falá quê que era a cocera não. Capaiz dele tê pensado que num pagava a pena falá, porque esses rocero num ia intendê mesmo... Mal sabia ele o tanto que o meu pai intindia de tanta coisa que num gastava pa trabaiá na roça e levá essa vidinha simple... Mal sabia ele o tanto que meu já tinha aprindido com o Anésio, purexemplo, assunto de medicina. Mais, aí, aquêlz cumprimidim daquêl tamãe, umas porcariínha, pegava metade inda amassava, dipois punha no mei dumas bolinha de doce de leite.

Quais que só assim pa tê desse doce de leite mais mole, porque o Bejim, dipois o Gilmar tamém,  gostava era daquele de cortá, que até era mais face de fazê, porque bastava pô munto açuca, sem pricisá ficá mexeno toda vida... rindia, pudia fazê no fugão mesmo, sem pricisá cendê fogo na trempe, lavá tacho... Aí, eu fui cumê o doce que dero na minha mão... até nem num era custume ganhá assim na mão... e  pircibi uns carocim que num era pa tê, omeno num custumava tê, e perguntei: - Quê que é esses treinzim no mei do doce? – É semente de goiaba. – Uai ... é doce de leite... – Ara, num amola... oceis num me dá sussego hora ninhuma...

Si num era pa amolá, eu num amolava... daquela veiz e das ôtas, eu ia tirano os carocim, que diz-qu’era semente de goiaba e num tinha cabimento sê; e ia cumeno o doce de leite, que era gostoso dimais, e que quais num fazia... diz-qu’eu tinha  mania de querê do que num tinha... manjar, geléia de porco (diz-que de vaca rende mais e num tem diferença, é só injuera), bolinha de quejo... acho que o Bejim prifiria era quejada, mais face de fazê tamém, por coincidença... até que manjar era uma coisa bem face, dessas que eu tinha mania de ficá quereno sem tê...

Bão... os cumprimido ceis já sabe quê que virô. A pumada?... vi falá (até quando eu já tava grande, eu via falá) que eu isprimi na parede, intupino aquêlz buraquim onde os manganguim gostava de ficá entrano e saíno. A cocera num cabô: omentava... diminuia... quand’eu vistia aquela blusa vermeia, aquela qui foi num sirvino prum i ficano pr’ôto, até chegá nimim, as cocera do braço e do pescoço piorava. Munto tempo dipois, eu fui contá que tinha visto falá que ixistia uma tal’ de alergia... - Ara, isso é coisa de gente injuada!... Cumé q’eu num tem alergia?  Se tivesse usado os remédio direito, tinha sarado.

Bão, a cocera até qu’inda vá-lá... diz o ditado que remédio de cocera é coçá, mesmo... A cocera era o de menos, im vista de ficá iscutano isso toda vida... porque num tinha  cunserto mesmo, já tinha levado as breca... num tinha mais cumprimido nem pumada ninhuma, cumé qu’ia disfazê o disperdiço...

Sobre incontrá o que num tá prucurano, té hoje, num perdi a mania... continuo achano ôtas semente de goiaba im muitos ôtos tipo de doce... Quando dô conta, tiro... quando querê tirá parece que é pió, vô ingulino... se pudé, largo de mão do doce. Agora: seno remédio, num pricisa disfarçá misturano in nada, não; sabeno que é remédio, num custa inguli.

(Florisa Brito)

 

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